Tendo escrito a primeira versão deste romance 14 anos atrás, o autor oferece-nos agora a obra realizada a que chamou Doce Alquimia. O título se refere a um veneno alucinógeno à base de papoula que transforma o ato de morrer numa intrigante viagem imaginária. Na obra, tal veneno será usado por um assassino serial para realizar dezenas de eutanásias. A insistência nesse crime obriga o leitor a refletir sobre o problema, tão incisivo, da extensão da vida com ou sem autorização da pessoa. Com grande propriedade e variados recursos narrativos, Marinho Piacentini utiliza a estrutura do romance policial para desenvolver alguns temas que afligem a sociedade: a questão religiosa e suas dúvidas, a sexualidade por amor ou por desejo e os supostos direitos sobre a própria vida. Descobrir o inspirador das eutanásias é tarefa do delegado Thales Duran, o protagonista, na qual será auxiliado pela ex-namorada, Gardênia, jornalista mas também psicóloga da área criminal. Esta, nos últimos anos, viveu na Índia como discípula do famoso guru Osho. A presença de Osho e sua filosofia se dá através da lembrança da jornalista, que, muito próxima de seu mestre, se inspirara em suas palavras para pensar sua própria existência. Interessado em aprofundar o viés psicológico de seus personagens, o autor narra a protagonista diante de um penoso processo de desilusão religiosa. Enquanto crê amadurecer - o que o leitor pode colocar em dúvida -, Gardênia retoma aos poucos sua antiga e avassaladora relação amorosa com Thales, provocando um movimento criador bem interessante entre as técnica do policial, várias denúncias sociais e momentos eróticos. Senhor de grande aptidão para criar diálogos, o teatrólogo Piacentini tempera-os com blocos de textos monologais, usando um respeitoso equíbrio para com o leitor. Marinho Piacentini traz para o romance grandes questões sociais e existenciais que podem ser analisadas à luz da falta de ética ou excesso de relativização dos valores. Trecho "Ela acreditava que Osho vivia em eterna iluminação, num estado contínuo de plena consciência, tudo o que ela buscava. Tornara-se monja para estar com ele e, desde então, vestia-se com túnicas da cor do sol nascente, tradição dos religiosos orientais. Naquele fim de tarde, ela teria um darshan, um encontro cara acara com o mestre, coisa cada vez mais rara naqueles dias em que uma multidão de discípulos acorria de todas as partes do mundo para vê-lo - uma onda internacional de pessoas famintas de seus ensinamentos, sobretudo porque pregavam a liberação sexual."
"Doce Alquimia é uma deliciosa leitura!Um romance policial inteligente, forte, atual, erótico sem cair no vulgar, instigante, criativo. Prende o leitor na cadeira da primeira à última página.Nas primeiras páginas, o desmonte das ilusões religiosas da personagem principal, poderia se aplicar às desilusões causadas pelas mais diversas religiões.Cai o véu, e verdade sobre o mestre, ou mestres, está ali diante do crente!A constante linha de fronteira entre o ético e o não ético permeiam de forma constante o texto, obrigando o leitor a pensar." VLAD.
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